Explodir a ruína, salvar a memória

Francisca Márquez

Levou pouco mais de três segundos para que a ruína do edifício Mónacocaísse, após a detonação de 375 quilos de explosivos. Ao meio-dia desexta-feira, 22 de fevereiro de 2019, enquanto alguns festejavam e outroschoravam, um rastro de poeira encheu o ar e toneladas de detritos cobri-ram o terreno onde o Parque Memorial Inflexión seria construído. Ape-sar de não haver vestígios da mansão-ruína, visitantes de todo o mundoainda vêm ao bairro El Poblado, em Medellín, para percorrer o Parque eouvir os guias contarem a história de Pablo Escobar, o narcotraficanteque deixou sua marca na história da Colômbia, e das centenas de vítimasque o narco-terrorismo deixou e continua a deixar em seu rastro. Vá-rias perguntas surgem desse passeio pelo Parque Memorial: era necessá-rio derrubar aquela ruína para apagar a violência que pesava sobre aColômbia? É suficiente um parque e memorial para honrar as vítimas eos fatos do narcotráfico? O que fazer com aquela memória que se queresquecer, explodir, sepultar nos escombros? Como respeitar a dor dasvítimas e fazer o luto do horror para que tais eventos não se repitam? Essas não são perguntas novas para as sociedades que viveram o ter-ror das guerras, do Holocausto ou das ditaduras sangrentas. Questõessobre a memória e o esquecimento, o luto e a resiliência acompanham ahistória de todo o século XX e possivelmente acompanharão o séculoXXI.

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